A esteticista portuguesa Carina Pais, de 21, levou cinco anos para ter uma relação sexual sem sofrimento. Sexo para ela, era sinônimo de dor: essa é a principal característica da dispareunia, desconforto durante ou após a penetração. Carina chegou a duvidar da sua feminilidade, mas depois de fisioterapia com dilatadores hoje consegue transar normalmente.

Os números a respeito da doença são controversos. Um estudo publicado em 2008 na revista americana Menopausa, com base em resultados de um questionário anônimo, concluiu que 40% das mulheres sofrem do distúrbio. No entanto, outro relatório, publicado no Scandinavian Journal of Public Health, diz que a dispareunia afeta somente 10% das mulheres. Especialistas concordam ao citar a “dor na alma” entre as causas – ou seja, é provável que as razões sejam psicológicas.

Carina conta que iniciou a vida sexual aos 16 anos e foi difícil perder a virgindade, porque doeu demais. “Tive alguns namorados na adolescência e sempre tive dor na penetração, mas achava normal por não ser sexualmente ativa.A ginecologista dizia para tentar relaxar, usar lubrificante, mas mesmo assim só transava (com muito sofrimento) para satisfazer o parceiro”, ela conta

No ano passado, não conseguiu fingir que tudo estava bem. “Meu então namorado, que sabia do problema, tentou ser carinhoso, mas era horrível para mim. Um dia, desabei por completo e chorei porque não me sentia uma mulher, mas um E.T”

O primeiro diagnóstico foi de vaginismo e a ginecologista a mandou para tratamento em um hospital. “Lá, uma outra ginecologista achou que era frescura, disse que tinha a vagina curta e foi tão bruta durante o exame que me deu vontade de chorar de tanta dor. Senti-me violada”

Foi uma sexóloga que descobriu a dispareunia. Não havia motivo aparente, nem trauma psicológico ou físico, nem religioso. Carina acha que mantinha a ideia de que sexo doía e seu próprio psicológico mandava a informação para o cérebro, que contraía os músculos e fazia com que ela perdesse a excitação.

Depois de um mês intenso, usando dilatadores e fazendo fisioterapia cinco vezes por semana, ela estava curada. “Meu namorado foi compreensivo. Consegui ter prazer e fazer amor agora, com 21 anos”.

 

De onde vem tanta dor?

A dispareunia é a dor sentida durante a penetração sexual ou no exame ginecológico. Ela pode ser primária, quando a paciente sente o incômodo desde a primeira transa, ou secundária, quando surge mais tarde, após o ressecamento vaginal da menopausa.

Segundo a ginecologista e sexóloga Ana Paula Junqueira, vice-presidente da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), a dispareunia está associada a doenças inflamatórias ou endometriose,ou ainda surgir após uma cirurgia ginecológica. Anticoncepcionais também podem provocar o problema devido a mudanças hormonais.

Segundo a profissional, problemas psicológicos, no entanto, estão hoje entre as principais queixas das suas pacientes.“Venho recebendo muita gente com dispareunia por estresse, ansiedade, depressão, ou ainda que passou por abuso sexual e uma educação repressora na infância. É crescente o uso de antidepressivos, principalmente entre jovens, e eles diminuem a lubrificação”, lista Ana Paula.

 

Para um diagnóstico preciso, a paciente deve detalhar os sintomas para o médico. “É importante examinar, mas é fundamental ouvir. Saber, por exemplo, se essa dor acontece só na penetração ou também quando coloca absorvente interno ou usa brinquedinho. A queixa sexual pode ser pano de fundo para algo que aconteceu na infância da mulher”, afirma a profissional.

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